sexta-feira, 26 de abril de 2013

Como fazer uma horta

Faça uma horta na sua própria casa!

Com o aumento dos preços, de vegetais,frutas, legumes,  a melhor coisa
a se fazer é uma horta, por que não?
Plantar comida no quintal (ou até na varanda do apartamento) tem mil vantagens: reforça o cardápio saudável, ajuda a economizar, diminui a produção de lixo e faz a gente se conectar espiritualmente com a natureza. Minha horta existe há quatro anos e, entre erros e acertos, vai melhorando. Tenho estudado bastante, mas ainda há muito o que aprender. Transformei em dicas práticas algumas das minhas descobertas. Aqui vão elas:

1 – A FASE DO SONHO
Deixe a sementinha da vontade de ter uma horta criar raízes dentro de você. Ou seja, não tenha pressa. Passeie pela varanda ou pelo jardim observando o espaço disponível, a incidência de sol (o ideal é pelo menos 5 horas por dia) e de vento (quanto menos melhor — por isso é bom evitar a face sul). Leia sobre hortas domésticas, procure informações na internet e, se puder, visite quem já possui uma. Comece logo a fazer compostagem ou instale um minhocário: assim você já vai preparando o adubo enquanto planeja sua lavoura.
2 – DECIDINDO ONDE PLANTAR
Um dia você finalmente resolve escolher o espaço. Pode ser um canto do jardim ou uma área cimentada (nesse caso, a horta será em vasos). Nessa hora é preciso ter cuidado para não cair na tentação da megalomania, pois grandes áreas são trabalhosas e você terá que encaixar as atividades de agricultor na rotina diária. Para começar, quanto menor, melhor. Um metro quadrado ou quatro vasos está muito bom. Quando pegar o jeito, você vai expandindo aos poucos a roça. Um bom tamanho para os vasos é a partir de 30 cm de diâmetro. Os menorzinhos são úteis para espécies mais esguias, como cebolinha, salsinha e tomilho.
Muito cuidado também com a tentação do consumismo (o que mais se vê por aí é excesso de equipamento e falta de dedicação). Baldes velhos, latas e potes de plástico que iriam para o lixo dão excelentes vasos. Basta fazer orifícios no fundo com uma furadeira. Será que algum conhecido tem no fundo do armário instrumentos de jardinagem que nunca utiliza? Ou vasos que iria jogar no lixo? Peça doações.

3 – PREPARAR A TERRA
Se for plantar no chão, está na hora de roçar. Delimite o local e, com uma enxada, vá “quebrando” a terra para retirar raízes, grama, pedrinhas, o que estiver lá. Trabalhe com suavidade, evitando revolver excessivamente as camadas do solo, mas retire muito bem as raízes de grama. Afofe todo o terreno e, se encontrar minhocas, fique feliz e tente não incomodá-las. Espalhe o composto orgânico e/ou húmus de minhoca que você fez em casa. Ou então use esterco, húmus de minhoca comprado ou adubo orgânico (Bokashi). Pó de osso também é muito bom, assim como cinzas (será que a pizzaria da esquina doa?). Um ou dois baldes de adubo são suficientes para cada metro quadrado.
Depois de afofar, nunca mais pise na terra. Por isso os canteiros devem ter no máximo 1,20m de largura. Se só for possível acessá-los por um dos lados, reduza para uma medida que você alcance confortavelmente sem pisar. Após a adubação, cubra o canteiro com uma camada de mais de 10 cm de espessura de material seco (palha, folhas ou podas de grama). Se não tiver o suficiente em seu próprio jardim, recolha da rua ou fique de olho naqueles sacos pretos que os jardineiros absurdamente largam para o caminhão de lixo levar embora. Deixe a terra descansar uns 15 dias, regando de vez em quando se não chover. Aí o terreno estará pronto para semear ou colocar as mudas.
Se for plantar em vasos, coloque no fundo 2 cm de argila expandida ou cacos de telha (com a parte convexa para cima). Em vasos grandes essa camada pode chegar a 10 cm. Preste atenção para não vedar totalmente os furos, pois um bom escoamento de água é fundamental. Em cima, areia na mesma proporção ou manta bidim (um tecido drenante que você encontra em lojas de jardinagem). Complete o vaso com terra adubada, deixando uma faixa superior livre, onde vai a generosa camada de matéria seca. Mantenha a terra úmida, mas não encharcada.

4 – ESCOLHER SEMENTES E MUDAS
Quais espécies plantar? Isso depende do que você gosta de comer, da época do ano, do espaço disponível e da intensidade da insolação. O melhor é usar sementes orgânicas. Se não encontrar, fique com as normais, que são vendidas em saquinhos em lojas de jardinagem. Na embalagem estão informações sobre período e forma de plantio e espaçamento das mudas. Para otimizar espaços, use a sementeira (uma bandeja cheia de casulos pequeninos que funciona como viveiro).
Para iniciar a horta, as ervas são uma ótima opção, pois em pouca quantidade já mudam o sabor dos pratos. E você pode ir retirando folhinhas em matar a planta. Começar por espécies como alface e cenoura é complicado, já que, depois de cuidar da planta por meses a fio, em um segundo você colhe e come. E fica aquele espaço vazio na horta…
Tomate é o sonho da maioria dos hortelões, mas prepare-se, pois se trata de uma planta exigente e que vai melhor ao inverno. Dizem que chuchu e maracujá são trepadeiras mais democráticas. Meus pés ainda estão na infância então não tenho muito a relatar.
Na agricultura orgânica, misturar espécies é uma prática incentivada, pois reduz o risco de ataque de pragas e ajuda a manter a fertilidade da terra. Nem todas as espécies, no entanto, convivem bem. Embora eu use o método “deixa rolar para ver o que vai dar”, existem tabelas de compatibilidade. Consultando-as, montei a lista de casais e desafetos abaixo:
Juntar: alface/cenoura; alface/beterraba; cebola/cenoura; cenoura/rabanete; pepino/rabanete; tomate/cenoura; tomate/cebola; espinafre/morango; rúcula/pimenta; couve-flor/beterraba.
Separar: tomate < > rúcula; tomate < > rabanete; alface < > pepino; alface < > morango
Onde encontrar mudas de ervas aromáticas e medicinais em São Paulo: http://www.sabordefazenda.com.br/
 5 – CUIDAR
Como os filhos e os animais de estimação, a horta pede cuidados diários. Dá trabalho, claro, mas é uma atividade deliciosa. Aos poucos, cada um encontra seu ritmo e essas orientações podem ajudar:
  • Regar demais é tão ruim quanto deixar as plantas secarem. Use o “dedômetro” para aferir a umidade ideal. É assim: você enfia o dedo bem fundo na terra e verifica se está úmida e grudando. Em caso afirmativo, não precisa regar mais. Atenção: folhas murchas significam sede.
  • Melhores horários para regar e manejar as plantas: início da manhã ou final da tarde. Prefira os dias nublados e mais frescos para transplantar.
  • O verão tropical escaldante e sujeito a tempestades é um período complicado para as plantas. Paciência e atenção redobrada nessa época.
  • A terra deve estar sempre fofíssima como um bolo. Se ficar endurecida, veja se está faltando água ou se a camada de matéria seca necessita de reforço.
  • Algumas plantas são perenes ou vivem durante várias safras, como é o caso das ervas, da berinjela e do pimentão. Outras têm apenas uma colheita, como o tomate e a alface. Misture esses dois tipos para sempre ter uma horta viva.
  • Enquanto uma safra de folhosas cresce, vá preparando a próxima na sementeira.
  • Quanto mais biodiversidade, melhor. Troque mudas com amigos hortelões, arranje sementes diferentes e vá trazendo novas espécies.
  • Na agroecologia não se fala em ervas daninhas e sim em espécies espontâneas. São os matinhos que crescem sem ser semeados. Não precisa exterminar. Se não estiverem alastrando demais ou atrapalhando o desenvolvimento da planta comestível, deixe lá.
  • O chorume do minhocário diluído em água é um excelente adubo para borrifar nas folhas.
  • A cada mês ou quando sentir que a planta está precisando, adube a terra. Mas sem exagero.
  • Contemple todas as etapas da vida: nascimento, crescimento, frutificação, morte e decomposição. Cada uma tem seu encanto.

6 – ACEITAR OS ERROS
Inevitavelmente eles vão acontecer. Por falta de experiência, distração, problemas climáticos ou outras razões. Faz parte do processo. Ter uma horta é uma excelente oportunidade de treinar a resiliência, a humildade, a aceitação de que somos falíveis e nem tudo acontece de acordo com a nossa vontade.

7 – CURAR
O solo fértil e povoado de milhares de tipos de microorganismos é a base de um ecossistema agrícola perfeitamente equilibrado, em que doenças e pragas não proliferam. Mas na vida real situações ideais são raras, então a probabilidade de enfrentar problemas em algum momento é quase 100%. Mesmo sem saber diferenciar uma cochonilha de um pulgão, tenho me virado para lidar com os ataques por aqui.
Duas atitudes preventivas importantes: plantar cada espécie em sua época adequada e fazer rotação de culturas, mudando não só a espécie como o tipo de planta. Onde estava uma folhosa entra uma raiz, onde estava uma erva entra alguém que dá frutos, como o pepineiro ou tomateiro. Bom mesmo é fazer uma tal adubação verde antes da próxima safra. Ainda não tentei, mas chego lá. Vale a pena também cultivar flores ao lado de espécies comestíveis, pois elas atraem joaninhas e outros bichinhos do bem que controlam a população dos monstrinhos. Nos livros de agricultura ecológica recomenda-se muito as caldas bordalesa, viçosa e sulfocálcica. As receitas estão na internet, mas achei meio complicadas e por isso ainda não tentei.
Quando encontro a infestação, arregaço as mangas e vou esfregando as folhas com os dedos, para arrastar os bichos. Aí jogo um jato d’água e, em seguida, borrifo o remédio. Nas lojas de jardinagem existe o famoso óleo de nim (ou neen). Opções caseiras são limonada (sem açúcar, claro), calda de fumo, pimenta ou alho batido com água no liquidificador. Alguma dessas coisas misturada com sabão de coco. Já ouvi dizer que fazer um suco do próprio bicho no liquidificador e borrifar funciona muito bem, já que essa turma pode ser meio bandoleira, mas não é canibal. Achei punk demais e ainda não tive coragem de experimentar algo assim. Mas, se bater o desespero, essa pode ser a salvação da lavoura.

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